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"Eu sou uma mãe dilacerada, acabada, destruída", diz mãe de adolescente morto em deslizamento
08/06/2022 09:08 em Chuva

Mais um dia de dor, tristeza e luto no Recife. Após as fortes chuvas que atingiram a Região Metropolitana entre a noite desta segunda-feira (6) e a manhã desta terça (7), um adolescente de 13 anos morreu em decorrência do deslizamento de uma barreira na rua da Vencedora, próxima à rua José Amarino dos Reis, no Alto Santa Terezinha, na Zona Norte da capital pernambucana.
 
Lucas Daniel Nunes da Silva é a mais recente vítima das consequências dos temporais que, há duas semanas, atingem o estado de Pernambuco, somando, até o momento, 129 mortes. No primeiro andar de uma casa que fica em frente à barreira que deslizou, de onde é possível ver o amontoado de barro e objetos que se formaram com o deslizamento, familiares se reuniram no início da manhã desta terça-feira (7).
 
A mãe de Lucas, Elivaneide Severina Nunes da Silva, 39 anos, afirmou, por mais de uma vez, que não sabe como serão os próximos dias. “Eu ainda não acredito, não. Eu não estou preocupada porque perdeu um pedaço de casa e paredes. O meu filho é um menino de 13 anos que tinha tudo pela frente, que sonhava com tanta coisa. Todo dia de manhã eu fazia os cachinhos no cabelo dele porque ele gostava de ir com os cachinhos para a escola. E agora, eu vou fazer os cachinhos de quem?”, contou, emocionada.
 
Ela morava com o esposo e os três filhos na casa atingida pela barreira. “Quando a barreira deslizou eu não ouvi, a gente estava dormindo. Eu já escutei o vizinho que mora na casa de trás me chamando. Caiu em cima de mim a parede, me agarrei com o [filho] mais novinho e já gritei por Lucas. Mas era muita coisa, não dá para acreditar que ali tinha casa”, disse.

Há 20 anos morando no local, Elivaneide contou que já ocorreram outros deslizamentos na região. “É inadmissível uma coisa dessa. Não podia ter acontecido isso antes e eu ter ido para o céu primeiro? Agora eu vou ter que enterrar um filho. A proporção não conta, mãe não pode enterrar filho não”, falou.
 
“Por incrível que pareça, a gente ligou [para a Defesa Civil] há uns três anos porque caiu um pezinho de árvore que tinha atrás [da casa] e aí disseram: ‘essa barreira não tem perigo de cair’. Porque não era uma barreira alta. Aí colocaram uns três metros de lona do chão para a metade da barreira”, afirmou. Segundo a moradora, recentemente, também foi colocada lona em uma barreira próxima, mas não na que houve o deslizamento. 
 
As lembranças do filho, conta, são permanentes. “No dia 3 [última sexta-feira], eu tirei um print de uma foto dele e disse: meu coração fora do meu corpo. Eu lá sabia que isso ia acontecer? Ele estava com o cabelinho cortado, que cortou sexta-feira. Ele estava juntando dinheiro para comprar bicicleta”, recordou. “Eu queria está sei lá onde. Eu queria ter meu filho. Eu sou uma mãe dilacerada, acabada, destruída”, continou, abalada.
 
padrasto de Lucas, Ricardo Jerônimo, relembrou o momento do deslizamento. “A gente estava dormindo, só vimos o estrondo na parede”, disse. “Ele [Lucas] estava na flor da idade. Foi muito peso, metralha, em cima dele e agora é difícil superar.” 
 
Eram 4h10 da manhã quando a vizinha e amiga da família Dayse de Brito ligou para o Corpo de Bombeiros. “Eu estava na varanda, que eu moro do outro lado, e foi quando eu escutei um estrondo feito um trovão, aí uma fumaça subiu. Eu disse ‘meu Deus, a barreira caiu’. Na mesma hora, eu liguei para os Bombeiros e a comunidade foi ajudar a desenterrar as vítimas”, disse.
 
Além de Lucas, que chegou a ser socorrido com vida, mas não resistiu, outras três pessoas foram resgatadas após o deslizamento. Elivânia Nunes, 46, tia do adolescente, contou que estava entre os escombros quando foi socorrida pelos vizinhos. “Fui retirada com vida, mas perdi tudo. Foi tudo muito rápido, [a barreira] caiu sem ao menos esperar. Fo aquela zoada. Quando eu me vi embaixo dos escombros, para mim, eu iria morrer. Foram os vizinhos que conseguiram me tirar”, contou.
 
Casas Interditadas
 
Além da casa onde vivia a família de Lucas, outras residências próximas à barreira foram interditadas pela Defesa Civil do Recife. Segundo os moradores, 10 casas localizadas na mesma área da residência do jovem foram interditadas e a orientação é de que as famílias vão para casa de parentes ou para abrigos montados pela Prefeitura do Recife.
 
Alguns moradores vão para uma igreja próxima à rua onde houve o deslizamento, outros vão para uma escola municipal que funcionará como abrigo provisório. Funcionários da Prefeitura do Recife faziam a mudança das famílias no fim desta manhã.
 
A dona de casa Elisângela Jéssica da Silva é uma das pessoas que precisaram sair de casa. “Eu moro aqui desde que eu nasci. A gente vai procurar a ajuda de amigos e vai para a igreja, porque não temos para onde ir, mas tem que sair, né?”, disse. “É triste, é lamentável, ter perdido um vizinho”, completou.
 
A manicure Andreia Ferreira, 43, vai para uma casa que estava desocupada e foi cedida por parentes. “Eu tenho um local para ir porque um parente cedeu. Aí, estou esperando a Defesa Civil me ajudar para levar as coisas para lá. Mas quem não tem para onde ir?”, indagou. 
 
Em nota, a Prefeitura do Recife informou que irá abrir a escola Ricardo Gama, que fica na circunvizinhança, para abrigar temporariamente as famílias atingidas pelo deslizamento. 
 
Veja a íntegra da nota abaixo
 
A Prefeitura do Recife informa que irá abrir a escola Ricardo Gama, que fica na circunvizinhança, para abrigar temporariamente as famílias atingidas pelo deslizamento no Córrego do Tiro, onde o atendimento será integral, com oferta de acolhida para dormir, alimentação, assistência social, de saúde e mental, aplicação de vacinas, realização de consultas e oferta de medicamentos e receitas.

Equipes da Assistência Social foram ao local para prestar apoio às famílias atingidas e a Defesa Civil atua na avaliação do risco das casas para interditar as que não apresentam mais condição de habitação no momento.  A Defesa Civil orienta a população que mora em áreas de risco a procurar locais seguros e que pode ser acionada pelo telefone 0800.081.3400.

Atualmente a Prefeitura do Recife oferece 18 equipamentos em funcionamento provisório como abrigos e pontos de apoio, sendo 9 unidades de ensino municipais funcionando como abrigo.

Fonte: Folha PE

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